{"id":1272,"date":"2016-03-03T11:51:09","date_gmt":"2016-03-03T14:51:09","guid":{"rendered":"http:\/\/www.umgoleoumais.com\/?p=1272"},"modified":"2016-03-03T11:51:09","modified_gmt":"2016-03-03T14:51:09","slug":"sabado","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.umgoleoumais.com\/sabado\/","title":{"rendered":"S\u00e1bado"},"content":{"rendered":"
<\/p>\n
Rotina \u00e9 mesmo uma coisa filha da puta. \u00c9 t\u00e3o filha da puta que a gente faz nosso lazer entrar na rotina e a coisa toda perde o sentido. Fazemos porque julgamos que aquilo desopila o dia a dia ma\u00e7ante, mas na verdade mesmo, fazemos porque n\u00e3o temos outra escolha a n\u00e3o ser a rotina. Sim, nossa exist\u00eancia \u00e9 besta – e de ressaca ela \u00e9 mais amarga e mais revoltante.<\/p>\n
E ent\u00e3o, num s\u00e1bado, como sempre, saio de casa enquanto a mulher faz faxina e prepara o almo\u00e7o – que tamb\u00e9m entrou na rotina, mas ela ainda n\u00e3o sabe – e sento pra tomar uma no bar enquanto espero o carro sair do lava r\u00e1pido. Mesmo gar\u00e7om, mesma cerveja, mesma cacha\u00e7a e mesmo petisco. Papo trivial pra quebrar o gelo enquanto o gar\u00e7om me serve. Mesma coisa. Um cumprimento ao dono do bar l\u00e1 atr\u00e1s do vidro do caixa, coberto por ma\u00e7os de cigarro. Mesma coisa. At\u00e9 a ordem de beber as coisas – mesma coisa. Dois goles, um bico na cacha\u00e7a, cigarro aceso e tempo passando.<\/p>\n
Chama o gar\u00e7om, pede mais uma, dois ou tr\u00eas coment\u00e1rios sobre nada e segue. Garrafa esvazia, garrafa cheia chega. Copo de cana esvazia, copo de cana enche. Torresmo acaba. Hora de ir pegar o carro. Pego o carro, paro em outro bar, encontro os tr\u00eas mesmos amigos, falo das mesmas coisas, rio alto, come\u00e7o a olhar pras meninas que chegam pra passar a tarde bebendo e rindo e me lembro que j\u00e1 \u00e9 hora de voltar pra casa, afinal, o almo\u00e7o deve estar pronto – j\u00e1 s\u00e3o tr\u00eas e meia da tarde. Hora da saideira. Outra saideira. A conta. Uma saideira por conta da casa? Sim.<\/p>\n
Cinco e meia da tarde. A mulher derrotada no sof\u00e1 da sala sob o ventilador nem se manifesta quando eu entro em casa. Jogo a chave do carro em cima da mesa, guardo a carteira e o ma\u00e7o de cigarros dentro da gaveta do m\u00f3vel da sala, passo no banheiro e mijo escandalosamente, aliviado. Lavo a m\u00e3o e a cara. N\u00e3o ouso dizer nada pra ela. Na cozinha, tiro as panelas da geladeira, monto um prato fenomenal e enfio no microondas. Os tr\u00eas minutos s\u00e3o suficientes pra me fazer cochilar enquanto espero.<\/p>\n
Encho um copo bem grande de refrigerante. Pano de prato na m\u00e3o pra segurar o prato e vou pra sala pra almo\u00e7ar. Ela, ainda deitada, cochila vendo o programa daquele narigudo judeu feio pra cacete. Como e deixo o prato na mesa do abajur ao lado do sof\u00e1. E \u00e9 a conta pra arrotar alto, fingindo ser sem querer, e perfumar a sala com um cheiro impag\u00e1vel de geladeira. O cachorro espirra. Eu rio de lado e, antes de conseguir peidar, durmo.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Rotina \u00e9 mesmo uma coisa filha da puta. \u00c9 t\u00e3o filha da puta que a gente faz nosso lazer entrar na rotina e a coisa toda perde o sentido. Fazemos porque julgamos que aquilo desopila o dia a dia ma\u00e7ante, mas na verdade mesmo, fazemos porque n\u00e3o temos outra escolha a n\u00e3o ser a rotina. … Ler mais<\/a><\/p>\n","protected":false},"author":4,"featured_media":1276,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[267],"tags":[6,268],"_wp_attached_file":null,"_wp_attachment_metadata":null,"_wp_attachment_image_alt":null,"_oembed_d4ff131949cee76250e9cdb644135026":null,"show_featured_image":"1","_yoast_wpseo_title":null,"_yoast_wpseo_opengraph-description":null,"yoast_head":"\n